sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Nota de pesar: companheiro Elmo Zumbi presente, presente, presente!

Conheci o companheiro Zumbi em 2004, quando, ainda como estudante da especialização em comunicação popular e comunitária da UEL, fomos recebidos para um trabalho de campo na Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Coopavi), no assentamento Santa Maria, em Paranacity/PR. 

Na ocasião, o prof Rozinaldo Miani, coordenador do intercâmbio e do curso, queria nos mostrar que a comunicação popular no Brasil tem na pedagogia do movimento (MST) um campo fértil para as ideias e para as práticas transformadoras. 

 Quem nos recebeu no assentamento foi Zumbi, que, com paciência pedagógica, nos contou sobre a história da conquista daquela terra, sobre a construção do trabalho autogestionário entre seus sujeitos e sobre o projeto educativo em curso naquela comunidade de trabalhadores e criadores de vida. Sim, criadores de vida: nos quintais produtivos das famílias, nos campos coletivos agroecológicos, na agroindústria dirigida processar alimentos saudáveis destinados a abastecer o povo, seja nas escolas, nas vilas, nas franjas das cidades. 

O testemunho de um projeto de economia solidária, amealhado com propostas culturais e educativas críticas e libertadoras, envolvia o funcionamento de rádios e de um amplo sistema de comunicação do próprio movimento, que apontava para um projeto maior de construção do poder popular. 

Daquele momento em diante, nunca mais percebi a comunicação, a questão agrária e a capacidade de resistência do povo camponês do meu país da mesma maneira. Também nunca mais deixei de ter contato com Zumbi, encontrando-me com ele em várias outras ocasiões da luta; figura muito ativa, crítica e cativante, ocupava os espaços de representação e de fruição, abrindo-se à partilha de ideias testemunhadas por ele numa prática militante que devemos relembrar. 

A busca de coerência de nosso companheiro Elmo Zumbi, seu legado para a luta agroecológica como pauta fundamental da libertação do povo trabalhador e da sustentação da própria vida, nos inspira a cultivar sua memória como a uma terra: um chão no qual devemos lançar apenas sementes da fartura, da paixão, da resistência, crioulas... o chão do qual devemos aceitar somente a sepultura, mas nunca a resignação! 

 Em meu nome, Kelci Anne Pereira, e em nome do Núcleo de Agroecologia e Artes do Vale do Gurguéia (UFPI), do Coletivo Cenas Camponesas (NAGU/UFPI) e do coletivo Terra em Cena (UnB), registro aqui gratidão ao companheiro Zumbi pelo legado de esperança ativa que nos anima a seguir firmes rumo a um outro mundo possível; cabe a nós construí-lo. 

 Aos familiares e amigos/as enlutados/as, registramos nossos profundos sentimentos!

Companheiro Elmo Zumbi : presente, presente, presente!

                                      Foto: Catarina Barbosa 


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