Ao
pensarmos as questões sociais destacamos entre elas a questão ecológica, a qual
por muitos olhares não é considerada de tão valor para estar presente em todas
as discussões de forma transversal. Intimamente ligada a essa questão, estão
como subalternas e invisibilizadas historicamente as mulheres, vistas como
subservientes em alguns espaços diante dos homens, sendo também seu papel
social definido pelo meio social e cultural, levando atribuições do feminino de
docilidade, maternidade, emotividade, fragilidade, refletindo ideologicamente
hierarquias e relação de poder entre homens e mulheres.
Contudo,
podemos pensar na mulher por um olhar de resistência e de protagonismo, em que
tiveram seus papéis definidos por essas relações de poder e que diante disso
são mulheres que desenvolveram papéis de resistência importantes para a
construção social de comunidades, a partir de suas memórias histórico-social,
produções de conhecimento, saberes e culturas para o processo de pertencimento
e afirmação de identidades, mesmo diante do racismo brasileiro, do sexismo,
machismo, do seu papel (imposto) de responsável solo de sua família na vida
cotidiana e escolaridade insuficiente. (BOMFIM, 2019)
São
essas mulheres que constroem ao longo da vida histórias que são silenciadas, consideradas
insignificantes, mas que tem um valor inestimável para a memória delas, da
comunidade e da sociedade, a qual possibilita um pertencimento identitário,
constrói educações e perpetuam saberes.
E em meio às realizações de seus papéis, são
mulheres que sempre estiveram organizadas politicamente, ocupando espaços de
resistência em busca de autonomia e luta pela igualdade de direitos, mas que
por relações de poder, interesses hegemônicos são invisibilizadas. Entretanto,
descobrindo o que é ocultado de suas histórias, principalmente no mundo do
trabalho, deve-se compreender que diante de várias funções que ocupam na
sociedade, sem retornos e gratificações para isso, as mulheres negras,
indígenas e agricultoras sempre contribuíram com sua força de trabalho para o
desenvolvimento na sua forma mais ampla (economicamente, socialmente e
culturalmente).
Diante disso, começamos a compreender os reais
fatos no âmbito de mulheres que contribuem para a construção de histórias,
mantenedoras de comunidades e assim relacionar, suas atividades e protagonismos
como instrumentos de conscientização planetária. Essas mulheres têm
participação que merece visibilidade na agroecologia, considerando que essa se
caracteriza como uma ciência e um movimento social, reunindo diversas visões e
um enfoque sistêmico.
E vale ressaltar que, precisamos olhar a
agroecologia na perspectiva de Ferreira e Mattos (2017), que compartilha a
questão de não se tratar apenas de uma forma de praticar agricultura, ao uso de
tecnologias que não agridam ao meio ambiente, mas sobretudo, um modelo que vem
romper com o modelo hegemônico de desenvolvimento rural, baseado principalmente
no agronegócio que faz parte da base do modelo capitalista desse último, sendo
o maior gerador de exclusão social, ou seja, o protagonismo dessas mulheres são
essenciais para o enfrentamento de subalternidade que se encontram, mesmo que
essa perspectiva agroecológica, por si só, não se revele suficiente para que a
subalternização do trabalho produtivo e da função social delas, sejam
suficientemente problematizadas. Mas Pacheco, nos alerta que:
(...)
a invisibilidade do trabalho das mulheres agricultoras é antes que nada uma
questão política. Os "silêncios" sobre as mulheres requerem outra
matriz de análise que parta dos ecossistemas e sistemas de produção, da
ampliação do conceito de trabalho e produtivo, em articulação com a questão da
diversidade social, como constitutiva de uma visão de agricultura sustentável
que relacione gênero e agroecologia. O debate continua em aberto. (Pacheco,
1997, p. 11 apud Ferreira e Mattos, 2017, p. 2)
Porém, mesmo diante dessa realidade de
silenciamento e invisibilidade, cada vez mais, a perspectiva agroecológica tem
demonstrado potencial de abrir espaços para que as mulheres agricultoras enfrentem
sua condição de vulnerabilidade. Neste sentido, o diálogo entre as perspectivas
agroecológica e feminista é um necessário traçado para o enfrentamento político
sobre as vivências de fatos desumanizantes, machistas e cruéis das mulheres no
meio rural.
Com isso, compreendemos que a relação da
agroecologia e o protagonismo das mulheres nos coloca diante do desenvolvimento
de consciência a respeito de questões sociais, mas também nos aproxima do
discurso da ecoeducação que se dá em diversos espaços e se dando nesse
contexto, pode também possibilitar consciência planetária a partir de seus
saberes da terra, que se caracterizam pelas práticas do trabalho no campo,
memórias coletivas, que nos oferecem entendimento do meio ambiente e da relação
com a terra.
Compreendendo também, que essas práticas são
experiências exemplares para a educação comunitária, a qual Gadotti (2001)
enfatiza sua importância como instrumento de transformação do modelo de
sociedade que estamos inseridos, guiado por um modelo econômico que nega o
cuidado com a terra e segue a política do desenvolvimento sustentado.
E enquanto essa política tenta se sustentar, existem cenários de
deficiências de infraestrutura das grandes cidades, índices de pobreza,
insalubridade das casas nos meios rurais e urbanos e de alimentos contaminados.
Todos esses fatores são causadores de doenças e que muitas delas poderiam ser
evitadas por uma educação para a saúde, por isso, é necessário considerar a
educação sustentável, uma ação significativa para gerar resultados benéficos.
“A ecoeducação, a educação ambiental e comunitária (popular), o que chamamos
aqui de educação sustentável, precisa, nesse sentido, ser estimulada. ”
(GADOTTI, 2001, p. 9)
Em virtude disso, podemos observar que não são
práticas sem valores, não são apenas vivências sem influências sobre a
realidade, ao contrário, são exemplos para repensarmos a vida na Terra, o
passado, presente e futuro da humanidade. Passamos a enxergar tendo essa tomada
de consciência, atos revolucionários, onde precisamos, inventar, desenvolver,
sobreviver, para chegarmos a uma consciência ecológica em que a preservação do
planeta será resultante e essa consciência precisa da educação em suas mais
diversas formas, tempos e espaços. E como nos deparamos com saberes da
experiência, cotidianidade, entendemos o que Paulo Freire compartilha: “ É
nesse sentido que se pode afirmar que o homem não vive autenticamente enquanto
não se acha integrado com a sua realidade. Criticamente integrado com ela. ”
(1959: 9 apud GADOTTI, 2001, P. 10)
Referências
BOMFIM, Bruna, C. S. Memórias
De Mulheres Quilombolas: Diálogo Com O Contexto Histórico Social E Suas
Vivências Como Egressas Ou Não Da Eja Em Vila De Mangueiras Salvaterra (Pa).
Trabalho de conclusão de curso. Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da
Universidade do Estado do Pará, Belém, 2019.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia
da terra: Ecopedagogia e educação sustentável; Paulo Freire y la agenda de
la educación latinoamericana en el siglo XXI. CLACSO, Consejo Latinoamericano
de Ciencias Sociales . Buenos Aires, 2001.
PACHECO, M.. "Sistemas de produção: uma
perspectiva de gênero". Revista Proposta - Desenvolvimento
Sustentável, 25(71). 1997 apud FERREIRA, Ana P. L. e MATTOS, Luís
C.. Convergências e divergências entre feminismo e agroecologia. Cienc. Cult.
vol.69 no.2 São Paulo Apr./Jun. 2017.
Autoras:
Bruna Caroline Santos Bomfim
Gilvan da Silva Costa
Millena Ayla da Mata Dias
Viviany Lúcia Fernandes dos Santos
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